É já na segunda-feira que os 13 países exportadores (OPEP) e os 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, que se juntaram em 2017 para formar a OPEP+, como forma de manter em equilíbrio os mercados do crude, feridos gravemente por sucessivas crises, voltam a sentar-se à mesa para analisar o momento actual e decidir se mantêm o programa de aumento da produção, que tem sido acima dos 400 mil barris por dia, ou se, pelo contrário, deixam a “besta” à fome para a amansar, cortando, ao invés, a quantidade de petróleo que diariamente chega aos mercados.

Olhando para os gráficos do Brent, de Londres, e do WTI, em Nova Iorque, o que se nota é que em pouco mais de uma semana, o barril perdeu mais de 10 dólares, e só na quarta-feira perdeu quase 3%, sendo que a recuperação a que se assiste hoje, sexta-feira, 02, deve-se integralmente a uma ameaça não assumida da OPEP+, que é liderada de facto pela Arábia Saudita e pela Federação Russa, de que pode inverter aquilo que tem sido prática há largos meses, optado por reduzir a produção, de forma de renovar o ímpeto dos mercados, reduzindo a oferta.
O que parece mais plausível é que seja anunciado na segunda-feira ou uma ligeira redução ou a opção pela manutenção da produção actual, sem acrescentos, porque a OPEP+ tem vindo a antecipar uma realidade pouco risonha para as economias mais dependentes das exportações de crude, como é o caso de Angola.
O que se sabe, segundo fontes sauditas, é que a oferta mantém-se estreita face à procura e, por isso, um corte na produção está em cima da mesa, o que pode vir a ser anunciado na segunda-feira. SE assim não for feito, os analistas não têm dúvidas, em breve ver-se-á o fundo do barril, que é como qauem diz, o seu valor vai-se esfumar e alguns países serão fortemente abalados, como será, seguramente o caso de Angola..
E foi quanto bastou para os mercados cumprirem a sua função de entidades de extrema sensibilidade, entrando na fase ascendente da montanha russa, chegando já esta tarde, perto das 15:00, hora de Angola, o barril de Brent, que serve de referência para as exportações nacionais, aos 94,63 USD, mais 2,68% que no fecho de quinta-feira.
Por detrás desta previsão de tempos pouco risonhos par os exportadores de crude feita pelo “oráculo” de Riade e Moscovo, está a histórica inflação e desemprego que começam a impedir as grandes economias europeias e as norte-americanas, EUA e Canadá, gerados no rasto do conflito na Ucrânia e das sanções ocidentais à Rússia, cujo impacto tem mais de “tiro pela culatra” que “acerto no alvo”.
Mas da China, a segunda maior economia mundial e o maior importador de crude planetário, quando o mundo já começava a esquecer os efeitos devastadores da pandemia da Covid-19, que entre o início de 2020 e finais de 2021, fez o mundo esconder-se do mais perigoso inimigo invisível deste primeiro quartel do século XXI, com novos e severos confinamentos impostos por Pequim a milhões dos seus cidadãos para levar a cabo a política oficial de “Covid zero”, o que conduz inevitavelmente, como os dados o demonstram, a menor consumo, reduz a procura por energia e dilui o crescimento do gigante asiático assente fortemente no seu poderoso sector exportador.
Em resultado desta paleta de tons pálidos para a economia mundial, que começava a ganhar corres vivas com o equinócio pandémico, a OPEP+ tem anunciado, repetidamente, previsões de menor procura para a matéria-prima, o que é uma desastrosa antecipação de problemas para a economia de países como Angola, fortemente dependentes das suas exportações de energia, sendo que a angolana é dependente em 95 % do total das suas exportações, o petróleo representa 60% das suas receitas anuais e 35% do seu PIB.
Como resumem os analistas das principais casas financeiras globais, este momento de depressão no negócio do crude mundial, não pode ser desalinhado do momento económico actual, fruto das colateralidades da guerra na Ucrânia e das desajeitadas sanções impostas pelos países ocidentais, cujo ricochete ameaça deixar vítimas do lado de quem aperta o “gatilho” destes pacotes de castigos à Rússia pela sua invasão do país vizinho, a 24 de Fevereiro, e que ameaça prolongar-se para lá de 2022 devido ao Inverno que começa a mostrar as suas pontas geladas no leste e norte europeus.
A inflação galopante é uma delas e para a controlar os bancos centrais europeus e norte-americano estão a activar o mecanismo de emergência que é a subida das taxas de juro, a ferramenta a que acodem sempre que os preços sobem entre os consumidores, especialmente nos combustíveis e alimentos, como é o caso, a ponto de se estar a bater recordes de 40 anos nestas latitudes económicas.
Tudo junto da o impressionante número de 900 mil barris diários de petróleo a mais, por dia, no que resta de 2022, o que, se não for corrigido, vai infectar as economias petrodependentes, como é a angolana, cujas consequências são impossíveis de antecipar em toda a sua magnitude, mas é de admitir que, se não forem tomadas medidas contravapor, podem passar por um aumento do custo de vida e uma desvalorização acentuada da moeda nacional, o Kwanza.