Até ao próximo dia 18, líderes de todo o mundo, académicos e organizações não-governamentais estarão reunidos em Sharm el-Sheikh, no Egipto, para tentar, mais uma vez, travar o aquecimento do planeta, limitando o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial. De Angola seguiu uma delegação chefiada pela vice-Presidente da República, Esperança da Costa.
África é um dos continentes à espera de decisões importantes saídas desta cimeira
O Presidente da Câmara Africana de Energia, uma organização que promove os interesses africanos defendeu que a COP deve reconhecer as necessidades especiais de África em matéria de transição energética.
O representante africano, NJ Ayuk, defendeu, numa nota escrita enviada à agência Lusa, que a “agenda verde das nações ricas ignora África” e lembrou que o continente é responsável por apenas 3% das emissões nocivas, sendo que, lembrou, as “receitas da exportação de petróleo e gás representam mais de 20%” em países como, por exemplo, Angola ou o Gabão e que são fundamentais para o desenvolvimento no continente.
Segundo o Presidente da Câmara Africana de Energia, a agenda verde dos países ricos “ignora quem aponta que o gás natural tem o potencial para trazer uma prosperidade enorme ao continente, na forma de empregos, oportunidades de negócios, construção de capacitação e monetização.
Ignora ainda, de acordo com a nota assinada por NJ Ayuk, “o caminho lógico e sustentável” proposto pela Câmara Africana de Energia.
“Usar os nossos recursos naturais, principalmente o gás, para nos ajudar a suprir as necessidades actuais e gerar receitas que nos possam ajudar a pagar a nossa transição para as energias renováveis”.
E Angola?
No ano passado, o Presidente da República, João Lourenço, subiu ao púlpito para anunciar um extenso compromisso de Angola com a sustentabilidade ambiental no Planeta Terra, apontando para que, até 2025, 70% das energias consumidas no País sejam limpas.
Em Glasgow, na Escócia, Reino Unido, João Lourenço aproveitou o seu curto tempo para se fazer ouvir, entre mais de meia centena de outros líderes mundiais que também tomaram a palavra na COP26, avançando com um número que os países mais ricos e desenvolvidos deveriam invejar: a matriz energética angolana já incorpora 62% de fontes de energia não poluentes e nos próximos quatro anos, até 2025, este número vai subir para os 70%.
Tendo presente que o continente africano, sendo dos que menos poluem, mesmo que por causa da sua escassa industrialização, é dos que mais vai ser sacrificado pelo aquecimento global e as alterações climáticas que vão surgir no seu rasto, o Presidente angolano aproveitou para dizer ao mundo quais os passos que o País está a dar na direcção da descarbonização, seja pela redução do uso de energias geradoras de gases com efeito de estufa, seja o que está a ser feito como teia natural de aprisionamento de carbono, como é o caso da reflorestação do mangal na orla marítima nacional.
Apontou ainda como exemplo o investimento gigantesco feito nos últimos anos na produção de energia hidroeléctrica e fotovoltaica, essenciais para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e altamente emissores de gases com efeito de estufa.
“Acabamos de firmar em Washington DC com o ICCF- Fundo Internacional de Conservação, um convénio para a conservação dos parques do Luengue-Luiana e Mavinga, para a protecção da vida selvagem animal e vegetal e desenvolvimento do turismo internacional sustentado”, apontou ainda o Presidente João Lourenço.
Sobre os compromissos do País no longo termo, Lourenço enfatizou o desafio que está a ser enfrentado por Angola de forma a alcançar os objectivos consubstanciados no Acordo de Paris através da já aprovada Estratégia Nacional para as Alterações Climáticas 2021-2035.
“O meu Governo aprovou mais recentemente um importante pacote legislativo ambiental, instrumentos que serão determinantes na luta contra as alterações climáticas”, disse ainda, concluindo que “Angola está alinhada com os consensos internacionais do desenvolvimento sustentável, incluindo o África – 2063, em consonância com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável”, ao mesmo tempo que falava dos projectos no domínio da gestão sustentável das florestas, transportes e agricultura.
Nações Unidas estimam que em 2050 os oceanos terão mais lixo que peixes em peso bruto – Angola é mau exemplo em África
Em Angola continua a não se verificar qualquer limite ao uso de sacos de plástico, como é disso exemplo as toneladas destes que enchem as valas de água que atravessam a cidade de Luanda, ou outras, ou ainda nas praias sempre que chove com mais abundância, embora existam taxas sobre o uso de materiais não degradáveis.
Mas esta preocupação está entre as prioridades do Governo na área ambiental há vários anos, como o demonstra o facto de já em 2019, na abertura do primeiro I Conselho Consultivo Alargado do ministério do Ambiente, que decorreu sob o lema “A integração ambiental e o desenvolvimento sustentável na municipalização”, a então ministra Paula Francisco considerou urgente que se reduzisse o depósito de plástico no meio ambiente.
Já então estava em curso medidas para a inibição paulatina na utilização do plástico em todo o país, todavia sem efeitos visíveis ainda no ambiente.
Isto, quando, no mundo, já há 130 países com programas concretos ou legislação dirigida aprovada que pune o uso de sacos e outros invólucros em plástico, sendo que 91 baniram totalmente o seu uso ou têm restrições severas, sendo que destes 34 estão em África, com o Ruanda a ocupar o lugar do melhor exemplo desta prática, que foi imposta há já mais de uma década.
Um dos problemas que enfrentam os países que iniciam este processo, normalmente aqueles que têm melhores níveis de educação, é que os países vizinhos onde tal limitação não existe, continuam a enviar sacos para o ambiente, ou ainda quando existe uma indústria local de produção de sacos de plástico e o seu fim exige a extinção de postos de trabalho.
As imagens de ilhas gigantes feitas de milhões de pequenos e grandes objectos de plástico no meio do oceano Pacífico, formadas pelas correntes marítimas, que são as maiores do mundo, mas que se replicam também no Atlântico e no Índico, são um bom exemplo da urgência de avançar para estas medidas.
Entre as aves marinhas, os plásticos, que muitos se confundem com alimentos, estão entre as principais causas de morte, por ingestão ou por se constituírem em armadilhas, tal como sucede com tartarugas, pinguins e focas, especialmente as redes de pesca abandonadas.
A sua degradação em ambiente natural pode levar mais de 100 anos, o que é uma garantia de acumulação destes resíduos em cada vez maior dimensão.