João Lourenço sublinhou que o continente africano vive, “em todas as suas regiões”, conflitos de natureza diversa e origem, cuja dinâmica “devemos reverter a todo o custo”, como, de resto, tem defendido ao longo dos últimos anos, tendo-lhe isso rendido, em Junho deste ano, o título de “Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África”.

Com esta afirmação, e perante Macky Sall, Presidente do Senegal, que é actualmente o líder da UA, e outros Chefes de Estado e de Governo presentes neste fórum de Dacar, que começou na segunda-feira, O Presidente angolano sublinhou a importância de reconhecer e fortalecer as múltiplas iniciativas em curso pelas organizações regionais africanas e o organismo pan-africano para alterar o quadro de instabilidade continental.
“Há importantes iniciativas que se vêm desenvolvendo ao nível regional e continental, com o propósito de se contribuir para a cessação dos conflitos que ainda perduram, e neste sentido destaco as que se empreendem no quadro da CEEAC, da SADC, da CEDEAO, da Comunidade da África Oriental (CAE) e da União do Magrebe Árabe (UMA)”, sublinhou Lourenço.
Destacando o seu papel de liderança na região dos Grandes Lagos, o Chefe de Estado angolano recordou ainda as acções que se têm vindo a empreender no âmbito da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), “um mecanismo prático que tem funcionado bem e se tem revelado útil no que concerne ao acompanhamento dos problemas que afligem a sub-região da África Central, designadamente o conflito fronteiriço entre o Ruanda e a República Democrática do Congo, entre o Uganda e o Ruanda, e o que subsiste na República Centro Africana”.
“Posso dizer com certa esperança que, apesar de se verificarem ainda algumas ocorrências preocupantes, também se observam sinais encorajadores quanto à probabilidade de se restabelecer a confiança entre as partes e, em função deste clima, dar-se continuidade ao diálogo encetado entre os países irmãos implicados no processo de pacificação que decorre na sub-região”, notou.
E garantiu em tom de promessa: “A República de Angola, em razão da sua experiência e da sua história recente, não poupa nenhum esforço ao seu alcance para prestar contributos que levem à paz no nosso continente”.
João Lourenço, na sua condição de “Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África”, apontou como pontos focais da sua acção em prol da paz e da estabilidade continentais a questão do “terrorismo que Moçambique, os países do Corno de África e da Região do Sahel enfrentam”, sem esquecer os “sucessivos golpes de Estado nos países da África Ocidental que, infelizmente, nem sempre têm encontrado uma vigorosa resposta para desencorajar a continuação de tais práticas que violam gravemente a Carta da União Africana, a Constituição e os princípios básicos da democracia dos países em causa”.
Defendeu uma “reacção vigorosa” de todos para com as alterações à ordem constitucional nos diversos países do continente onde medra a instabilidade, promovendo a “tolerância zero” aos novos poderes resultantes de golpes de Estado.
“As mudanças inconstitucionais, mesmo ali onde não houver derramamento de sangue, não podem ser encaradas como algo normal e ficar-se à espera da vontade dos golpistas para o regresso à normalidade constitucional, quando e se os golpistas assim o entenderem”, reforçou.
“O conflito armado na região do Tigray, na Etiópia, não pode cair no esquecimento, deve continuar a merecer a nossa permanente atenção, deve continuar na nossa agenda até que seja alcançada a paz definitiva”, apontou ainda.
E foi com esse fito que o Presidente angolano iniciou o seu discurso apelando a uma “profunda reflexão sobre as consequências dos conflitos armados sobre a vida das populações e sobre a economia dos nossos países”, apontando estas situações, que acompanham África há décadas, desde as primeiras independências, considerando que golpes e conflitos “têm vindo a condicionar o desenvolvimento económico e social do nosso continente”.
Os desafios colocados pela pandemia da Covid-19 foi outro dos focos deste discurso de João Lourenço, onde descreveu a forma como Angola o ultrapassou.