O Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu, recentemente, reduzir a taxa básica de juro (Taxa BNA) de 20% para 19,5%, após um ano de manutenção da taxa.

Adicionalmente, reduziu a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez de 23% para 21% e manteve a taxa de Juro da facilidade Permanente de Absorção de Liquidez de sete dias em 15%.
A medida tomada pelo Banco central está em contraciclo com o que se tem verificado no mundo nos últimos meses, em que as maiores economias estão a ser obrigadas a subir as taxas directoras.
Para o Governador do BNA, José de Lima Massao, no plano nacional, os fundamentos macroeconómicos continuam animadores.
“Considerando a consistência do abrandamento da evolução de preços na economia nacional, particularmente desde o início do ano em curso, como resultado do contínuo e rigoroso controlo da liquidez, da apreciação do kwanza em relação às principais moedas utilizadas nas transacções com o exterior e do aumento da oferta de bens essenciais de amplo consumo, o Banco Nacional de Angola entende estarem reunidas condições para a redução da taxa de juro directora”, justificou o Governador durante a apresentação da decisão do CPM.
Além do ambiente interno, segundo o BNA, a decisão tomada teve em consideração o contexto externo e riscos inerentes, dada a exposição da economia angolana ao sector petrolífero e ao peso dos bens alimentares importados no cabaz de oferta ao mercado interno.
Assim, Massano garante que o BNA continuará a acompanhar de perto os desenvolvimentos internacionais mais impactantes sobre a nossa economia, de modo a poder actuar atempadamente caso a evolução se justifique.
O BNA havia definido a taxa de 20% em Julho de 2021, depois de saltar de uma taxa de 15,5% em Junho de 2020.
O CPM mantém a perspectiva de a taxa de inflação no final do ano em curso situar-se abaixo da previsão inicial de 18%, caminhando para o objectivo de um dígito no médio prazo.

O que dizem os Economistas
Para o economista e docente Wilson Chimoco foi uma decisão acertada.

“O objectivo principal do BNA é a estabilidade dos preços. E o aumento dos preços tem vindo a desacelerar e com perspectivas de fixarem-se abaixo dos 18% em 2022. Logo, nada justifica que a taxa BNA mantenha uma diferença considerável com a taxa de inflação”, justificou.
Wilson Chimoco aponta que a decisão tem pouco significado económico, não apenas pela dimensão do corte, mas também pelos reduzidos mecanismos de transmissão que a mesma tem para a economia real, acrescentando que foi necessária para a credibilização da política monetária do BNA.
Quanto ao cenário mundial, o economista afirma que a conjuntura económica internacional tem sido favorável à economia angolana.
“A inflação está a desacelerar. Os termos de trocas de Angola são favoráveis. As contas públicas estão superavitárias. As perspectivas de crescimento são positivas. Logo, faz-se necessário o desagravamento da restritividade da política monetária. E é normal que o posicionamento do BNA seja contrário ao assistido pelos demais bancos centrais, pois o contexto é pouco favorável para muitos daqueles países”, elaborou.
Assim, segundo Chimoco, os grandes desafios do BNA, enquanto autoridade monetária, passam por continuar a credibilizar a sua política monetária, implementar o novo regime de metas de inflação e exercer as suas funções com a independência prevista na lei, bem como “calibrar” os seus instrumentos de política monetária para alcançar o objectivo de inflação de um dígito no médio prazo, num contexto que se poderá assistir uma maior liberalização dos preços dos combustíveis, transporte, electricidade e água.
A afirmação do director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC), Heitor Carvalho vai de encontro com a apreciação de Wilson chimoco, ao dizer que a medida é assertiva. Porém, Heitor carvalho explica que “O BNA está a dizer-nos que, se a inflação descer, descerá a taxa de juros, se subir fará o contrário, seguindo a política da generalidade dos bancos centrais, e que o BNA é bastante conservador e prudente”.
“Pessoalmente acho que resolve muito pouco porque a inflação, em Angola, depende da taxa de câmbio e não da taxa de juros. Uma variação de 0,5 em 20 não terá grande efeito no crédito, mas o sinal vem dar confiança às descidas das taxas de juro que já estavam a acontecer. Por outro lado, sem uma acção mais activa sobre o crédito à produção, interessando a banca em ceder crédito ao abrigo dos avisos 9 e 10, através da sua bonificação, não teremos efeitos significativos”, afirmou.
Quanto à comparação com os outros países, Heitor Carvalho explica que, o BNA está a seguir exactamente , a mesma política, mas “ aqui estamos a reduzir significativamente a inflação enquanto no exterior está a aumentar”, porém, defende que “ a nossa inflação depende da taxa de câmbio e, por isso, não concorda que se siga a mesma política.
Já o economista Daniel Sapateiro diz que a “medida não é a mais acertada neste tempo”.
“O paradigma angolano não mudou, a oferta não melhorou face a procura constante dos consumidores, sejam famílias ou empresas, nomeadamente as não financeiras, por outro lado, o crescimento populacional que também faz uma pressão sobre o consumo, os rendimentos não melhoraram, por via da produtividade, e também porque a descida ou desinflação que está a ocorrer não me garante que esta medida de reduzir a taxa de 20 para 19,5% seja a mais acertada neste tempo”.
Para o economista, o BNA deveria aguardar até que a economia “entrasse em deflação”, uma generalizada dos preços dos bens , nomeadamente os bens da cesta básica, para que haja uma repressão da taxa directora.
Segundo explica o economista, os outros bancos centrais (como a Fed e o BCE) estão a aumentar as taxas, ao contrário de Angola, porque todos os limites impostos por regras internas ou regras transnaccionais foram ultrapassados em duas, três, quatro vezes.
“O desafio destes bancos (em que se verifica o aumento das taxas de juros) é de conter o crescimento dos preços por via do desestimular o consumo e o investimento pelo preço do dinheiro ser baixo, logo, nestes países justifica-se a continuidade destas subidas nos próximos tempos. O desafio do País é descer a taxa de inflação (descer o crescimento dos preços), enquanto lá é combater a subida dos preços”, apontou.