Em Setembro de 2021, o Presidente João Lourenço visitou Espanha em retribuição a uma visita que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, fez a Angola em Abril do mesmo ano. Nos dois eventos, falou-se muito de cooperação bilateral, mas, ao olhar comum, a presença de espanhóis em Angola, nos diversos seguimentos, ainda parece irrisória. Partilha da visão?

Espanha tem uma presença consolidada em Angola há muitos anos. Espanha apostou em Angola no começo dos anos 80, quando esse País não tinha muitos amigos. Trouxemos uma muito importante cooperação para o desenvolvimento quando Angola estava muito necessitada. Daquela altura até hoje, a presença de Espanha continuou e evoluiu. No domínio empresarial – é verdade -, baixou um pouco com a crise dos anos 2008, 2011 e 2012, mas temos uma boa presença também.

De que sector empresarial fala?

Principalmente, a secção de energia, infra-estruturas, engenharia, consultadoria e também distribuição.
Mas concordaria comigo se lhe dissesse que, em termos sociais, no que toca à relação entre pessoas, Espanha anda muito atrás de outras potências europeias?
Sim. Na verdade, a presença de cidadãos espanhóis em Angola baixou também com a pandemia, mas temos aproximadamente 900 cidadãos de Espanha, registados pela Embaixada, com residência permanente. Acho que, nos próximo anos, a presença de espanhóis cá vai aumentar.

Porque é que acredita nisso?

Primeiro, porque a economia dos países está a recuperar e Angola é uma terra de oportunidades. Em Espanha, as empresas têm necessidade de se internacionalizar. Há empresas que têm uma grandeza apropriada para trabalhar em Angola em diversos sectores, como já disse, nas energias, infra-estruturas, construção e também distribuição.
Na relação com o continente berço, Espanha tem o programa “Foco África 2023”. Em linguagem simples e concreta, o que os angolanos podem esperar dessa iniciativa?
Espanha fez dois documentos muito importantes [na relação com África]: um em 2019, que se chama “III Plan África”, e depois outro em 2021, que se chama “Foco África 2023”. Em ambos os documentos, Angola é considerado país prioritário na região subsaariana, com outros dois ou três países.

O que isso significa?

Significa que vamos colaborar em muitos terrenos, não somente no aprofundar das relações comerciais, mas também em campos como as mudanças climáticas, a segurança marítima e o reforço das instituições multilaterais, com vista a trabalharmos juntos para lograr uma gestão da interacção coerente e lógica e também para o reforço das instituições internacionais. Portanto, não é somente uma cooperação bilateral. É uma cooperação que tem uma projecção muito mais ampla.
O Ambiente é uma questão à qual Angola, no discurso político, agora presta mais atenção, ao ponto de desmembrar esse sector da Cultura e Turismo, criando um ministério próprio. O que Espanha pode dar ou ensinar a Angola nesse domínio?
Espanha pode colaborar muito bem com Angola no sector das energias renováveis, porque é uma potência neste âmbito; tem muita experiência e muitas empresas que são líderes no mundo no campo das energias renováveis e energias eleólica e solar. Temos ainda uma grande possibilidade de parceria.