As importações de Angola fixaram-se nos 8,2 mil milhões USD (cerca de 3,5 biliões Kz) no primeiro semestre de 2022, um aumento de 52% em relação ao mesmo período de 2021, segundo cálculos do The Angola Post com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola (BNA).

Os 8,2 mil milhões USD, correspondem à soma dos 3,7 mil milhões e 4,5 mil milhões USD verificados no primeiro e segundo trimestre de 2022, respectivamente.
Feitas contas, os combustíveis foram os produtos mais importados. Se por um lado o petróleo sai do País como o principal produto de exportação e maior fonte de receita, por outro lado, como combustível, o petróleo é o produto que Angola mais importou no Iº semestre, com 1,9 mil milhões USD, e representam e 23% do total das importações. Os combustíveis também registaram o maior aumento de importação.
As máquinas, aparelhos mecânicos e eléctricos foram os segundos mais importados, Angola gastou cerca de 1,75 mil milhões USD para compra destes produtos. Já os alimentos estão na terceira posição, foram gastos 1,3 mil milhões USD na importação de bens alimentares. Em 2021 o País gastou cerca de 2 mil milhões USD com importações de alimentos.
Na lista dos produtos menos importados no primeiro semestre do ano constam os produtos mineiras, com 10,9 milhões USD, madeira e cortiça com 14,6 l milhões e bebidas e vinagre com 47,6 milhões USD.
A nível da classificação dos bens, segundo as estatísticas do Banco Central, os bens de consumo corrente (bens de consumo familiar) foram os que mais se importou, cerca de 5,5 mil milhões USD com um crescimento de 66% em termos homólogos. Já os bens de capital e intermédios (como veículos, equipamentos e instalações, necessários para a produção de outros bens e mercadorias) cresceram 35% e 20%, respectivamente.
No final de 2021 as importações ficaram avaliadas em 11,8 mil milhões USD, mais 2,3 mil milhões USD em relação a 2020.

“Indústria não petrolífera não consegue responder em larga escala”

Em declarações ao The Angola Post, o economista e consultor Augusto Fernandes afirmou que o aumento das importações angolanas é preocupante e o “sinal mais evidente que a indústria não petrolífera ainda não consegue responder em larga escala”.
“A procura por bens de consumo necessário para satisfazer as necessidades de consumo, e só é possível suportar esses níveis de importação que se assemelham aos atingidos em 2014 porque o volume de exportação de petróleo e gás estão em alta. A medida que entra mais divisa para a economia nacional o País tem mais capacidade de suportar os níveis de importação que precisa para satisfazer as necessidades das populações”, explicou.
Segundo explica o economista, a medida que a inflação abranda é sinal que a economia tem aumentado a quantidade que bens e serviços. No caso de Angola, segundo argumenta, actualmente a taxa de variação positiva da inflação mensal registada em 2022 é menor do que a taxa de variação positiva da inflação mensal registada em 2021.
Quanto aos combustíveis, Augusto Fernandes explica que os níveis de importação de derivados de combustíveis tendem a aumentar à medida que a actividade diamantífera e das pequenas actividades económicas não petrolíferas vai crescendo.
“Depois da crise de pandemia da COVID 19 o País vai retomando a actividade económica petrolífera e não petrolífera, isso faz com que o consumo de derivados de petróleo aumenta”, argumentou.
Já o especialista em petróleo e gás, Flávio Inocêncio, argumenta que há várias razões que têm influenciado o aumento das importações de combustíveis.
“Temos ainda uma insuficiência enorme na produção de combustíveis e esses combustíveis ainda são de facto subsidiados o que faz com que a procura seja menos elástica. Para além disso, os combustíveis são utilizados não apenas para transporte mas também para produção de electricidade por diesel. Não podemos esquecer que apesar desta subida, Angola mantém um superávit na balança comercial”, explicou.
Entretanto, Flávio Inocêncio diz que o Executivo já tomou várias medidas que irão aumentar a oferta de refinados, como a requalificação da refinaria de Luanda cuja capacidade foi aumentada de forma significativa, a construção das refinarias do Lobito, Soyo e Luanda, que segundo o especialista vai tornar Angola auto-suficiente no downstream e aumentar a capacidade de exportar.
“A questão fundamental política deverá ser acabar com os subsídios de facto dos combustíveis”, apontou.

China é o País que mais enviou produtos a Angola

De acordo com números do BNA, com 1,1 mil milhões USD China foi o país que Angola mais gastou com importação. As importações com o gigante asiático cresceram 45%, face aos 784,3 milhões USD registados no primeiro semestre de 2021. Desde 2015 que a China tem sido o país que mais exporta produtos para Angola.
Em seguida está Portugal (que na década passada liderava as importações angolanas) e Holanda com, respectivamente, 967 milhões e 704 milhões USD. Juntos foram dos três países que Angola mais gastou com importação de bens.
Segue-se ainda a Bélgica (579 milhões USD), Índia (530 milhões USD), Coreia do Sul (492 milhões USD), Estados Unidos da América ( 384 milhões USD), Brasil (359 milhões USD)e Reino Unido(324 milhões USD).
A nível do continente africano, Angola recorreu aos produtos da África do Sul que custaram 239 milhões USD.

Flávio Inocêncio, especialista em Petróleo e Gás

Temos ainda uma insuficiência enorme na produção de combustíveis, que ainda são subsidiados, o que faz com que a procura seja menos elástica. Para além disso, os combustíveis são utilizados não apenas para transporte mas também para produção de electricidade por diesel. Não podemos esquecer que apesar desta subida, Angola mantém um superávit na balança comercial… Já foram tomadas várias medidas pelo Executivo e isso irá aumentar a oferta de refinados. A questão fundamental política deverá ser acabar com os subsídios aos combustíveis.

Augusto Fernandes , Economista e Consultor

Olho para este cenário com muita preocupação. É o sinal mais evidente que a indústria não petrolífera ainda não consegue responder, em larga escala, à procura por bens de consumo necessários para satisfazer as necessidades de consumo. Só é possível suportar esses níveis de importação que se assemelham aos atingidos em 2014 porque as exportações de petróleo e gás estão em alta. À medida que entram mais divisas para a economia nacional, o País tem mais capacidade de suportar os níveis de importação que precisa para satisfazer as necessidades das populações.