A Lei Eleitoral vigente em Angola não proíbe o uso de templos religiosos para campanhas eleitorais. Mas alguns religiosos e membros da sociedade civil ouvidos pela The Angola Post mostram-se contra atos políticos em igrejas.

Com a campanha eleitoral à porta em Angola, os atores políticos desdobram-se em contactos, em busca de simpatias políticas, visando o alcance de melhores resultados nas eleições gerais de 24 de agosto.
As igrejas, por serem locais de concentração de vários extratos sociais, têm sido alvo de acenos políticos. Mas a ideia de abrir portas e ceder púlpitos a políticos, em tempos de campanha eleitoral, tem divido opiniões entre religiosos e sociedade civil.
Para o pastor Pedro Trindade, o púlpito é um lugar sagrado reservado para a preparação, moralização e instrução do povo para a salvação. Por isso, discorda do uso deste espaço para a transmissão de temas ideológico-partidários.
“Acho que o altar não é o lugar ideal para que os políticos venham apresentar os seus programas de governação, seja as suas políticas ideológicas, seja o que for. Porque nós temos espaços que precisamos preservar em função dos seus objetivos”, defende.
O sociólogo Memória Ekolika diz que são políticos que exigem às lideranças religiosas que incluam um espaço de intervenção nos cultos e missas. Ekolika reprova este comportamento que classifica de “promíscuo”.
“Não fica bem de facto, é uma violação do espaço de culto, já que por aquilo que nós sabemos as campanhas eleitorais não deviam ocorrer em círculos religiosos, não deviam decorrer nas igrejas.”
O pastor Pedro Trindade considera importante que os líderes religiosos consigam separar as suas simpatias políticas das funções sacerdotais e argumenta.
“Nós somos cristãos, somos pastores, tudo bem, cada um de nós tem a liberdade de ter o seu partido politico, confessar a defesa das suas ideologias políticas, mas no entanto, este elemento deve ser reservado fora da congregação, porque na congregação, no altar é um lugar especifico para a ministração da palavra de deus e não de uso de questões politicas.”
Por outro lado, o sociólogo Memória Ekolika diz não fazer sentido dar um tratamento diferenciado aos políticos, quando se deslocam a missas e cultos. O académico pede às lideranças religiosas para que olhem para os constrangimentos que causam ao tratarem crentes de forma diferenciada.
“Eles vêm para a igreja como irmãos, como qualquer outro crente, então devem ser recebidos como são recebidos outros crentes”, argumenta. “Se for numa igreja onde esse seja uma visita, são apresentados como todos outros crentes, sem direito à palavra, porque fica mal que a este se de a palavra e a outros crentes não.”