A ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, disse ontem, na conferência “Bloomberg Invest: Focus on Africa”, que o Governo reviu em alta a previsão de crescimento económico para 2022, antecipando agora uma expansão de 2,7 por cento, devido ao aumento do preço do petróleo.

“Sim, revimos a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano para 2,7 por cento, considerando o mesmo ritmo de 1,14 milhões de barris de petróleo por dia e um preço a rondar os 100 dólares”, disse Vera Daves de Sousa, quando questionada durante a conferência da Bloomberg sobre África, que decorreu ontem, a partir de Londres.

Angola saiu da recessão que durava desde 2016 no ano passado, registando um crescimento de 0,7 por cento, e previa aprofundar a recuperação, com uma expansão económica de 2,4 por cento este ano.

Na entrevista, a ministra das Finanças também foi questionada sobre a possibilidade de Angola aumentar as exportações de petróleo e gás para a Europa, compensando a quebra nas vendas à Rússia. “Sim, temos a vontade política e abertura para o fazer, mas precisamos de muito trabalho de casa, para conseguir dar resposta a essa necessidade da União Europeia”, respondeu, salientando que entre o investimento e o retorno passam anos.

“Nós viemos de um cenário de queda da produção, estamos a motivar as companhias a fazerem mais investimentos, através de reformas, e estamos a ver os primeiros resultados, mas demora tempo, entre os investimentos que começam agora e os resultados, demora entre dois e cinco anos, por isso, queremos e estamos preparados (para aumentar as exportações para a Europa), mas vai demorar, para conseguirmos corresponder às expectativas”, explicou a governante.

 Sonangol em bolsa no final de 2023

A ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, estimou que o processo de privatização parcial da Sonangol esteja pronto daqui a 18 meses, o que atira a colocação da petrolífera em bolsa para o final do próximo ano.

Durante a conferência “Bloomberg Invest: Focus on Africa”, Vera Daves de Sousa disse que a principal empresa petrolífera angolana ainda está num momento complexo e salientou que o processo de reestruturação demora tempo.

“Ainda estamos num mo-mento complexo na Sonangol, está num processo de reestruturação, daqui a um ano ou ano e meio estaremos mais confortáveis, para avançar com a due dilligence e depois vender uma posição minoritária”, disse a ministra, quando questionada pela Bloomberg sobre o andamento do processo.

“Ainda não há uma data fixa para a IPO (Oferta Pública de Venda), daqui a 12 ou 18 meses, é uma perspectiva objectiva, mas depende da rapidez com que avancemos relativamente aos activos que a Sonangol está a privatizar, e outros activos que está a recuperar e que precisam de estar nas contas”, explicou.

Em 2019, Angola deu início ao Programa de Privatizações Integral e Parcial de Empresas Públicas (Propriv), com uma lista de 195 activos, aos quais foram adicionados outros 16 e, mais tarde, retirados 71, totalizando 140 empresas.

Até final de Janeiro, tinham sido realizadas 73 privatizações, correspondentes a 52,1 por cento do grau de execução do programa, maioritariamente no sector industrial (28), seguindo-se o da agro-indústria (17), estando em curso 67 processos. Das empresas privatizadas, 54 delas foram adjudicadas a empresas angolanas, 41 encontram-se operacionais e 32 em fase de arranque.

Em termos de execução financeira, o valor contratualizado totaliza cerca de 850,1 mil milhões de kwanzas, sendo o valor recebido 469,6 mil milhões de kwanzas e por receber 380,5 mil milhões.

Em 2021, ficaram concluídas privatizações de 35 activos, destacando-se o Banco de Comércio e Indústria (BCI) e 24 activos via leilão electrónico, com um total arrecadado de 444 mil milhões de kwanzas.

  Governo garante mais autonomia aos bancos


A ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, disse ontem que o Governo pretende recorrer menos aos mercados financeiros internacionais e ao sistema financeiro angolano, argumentando que os bancos nacionais precisam de espaço para financiar a diversificação.

“Estamos a reconstruir as reservas e queremos estar prontos para futuros desafios, não queremos passar novamente pela experiência da Co-vid-19, por isso apostarmos na reconstrução das reservas do Tesouro”, que desceram para níveis históricos durante a pandemia de Covid-19.

“Queremos ser menos agressivos no financiamento, usar menos o financiamento externo e o interno, especialmente o interno”, explicou. Questionada sobre o que irá fazer com o au-mento de receita proveniente do petróleo, cujo preço inscrito no Orçamento (59 dólares por barril) é quase metade do preço actual, a rondar os 100 dólares, a ministra insistiu na ideia de dar espaço para o financiamento da diversificação económica.