A consultora EMFI considera que Angola “está a viver o melhor momento económico dos últimos anos”, uma situação diametralmente oposta à conjuntura de há 20 anos, quando foram assinados os Acordos de Paz do Luena.

“Angola distingue-se como o país que está a viver o seu melhor momento económico dos últimos anos”, de acordo com uma nota enviada à Lusa por analistas da EMFI.

“A moeda local, o Kwanza, registou o melhor desempenho face ao dólar, desde o princípio do ano, principalmente por causa do preço elevado do petróleo, da melhoria do rating de Angola por várias agências de notação financeira e do previsível abrandamento na subida das taxas de juro pelo banco central”, fundamentam os analistas da EMFI.

Notam que, ainda assim, “todas as boas notícias dependem do preço do petróleo, cuja queda recente foi o pior pesadelo para Angola, há não muito tempo”.

A situação de melhoria dos indicadores económicos nos últimos meses marca um mundo de diferença com a conjuntura económica de há 20 anos, quando foram assinados, a 4 de Abril de 2002, no Luena, os acordos de paz entre o Governo e a UNITA, pondo fim a 27 anos de guerra civil em Angola.

Em 2003, o primeiro ano em que a economia angolana foi analisada ao abrigo do Artigo IV, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reportou que “Angola enfrenta uma grave crise humanitária, com mais de 65% da população urbana a viver abaixo da linha de pobreza” e que o número de pessoas a viver na pobreza extrema tinha duplicado entre 1995 e 2000, para quase 25% da população.

Apesar disso, o petróleo influenciou os indicadores económicos de forma enganadora, já que a taxa de crescimento económico era de 15%, em 2002, devido aos 900 mil barris que o país injectava diariamente, no mercado.

Os preços para os consumidores duplicaram entre 2001 e 2022, atingindo uma taxa de 110 por cento e os depósitos feitos em dólares, nos bancos comerciais, representavam 85% do total e a dívida pública melhorou de 126% do PIB (Produto Interno Bruto) em 1997, para 80%, em 2022. Contudo, o próprio FMI alerta que estes dados devem ser lidos com cautela, já que “a capacidade estatística de Angola é muito fraca”.

Avançando 20 anos, o panorama é completamente diferente, com a generalidade dos analistas a prever que Angola cresça de forma sólida este ano, ainda assim insuficiente para compensar os últimos cinco anos de recessão económica, motivada, primeiro, pela queda dos preços do petróleo e, depois, agravada pela pandemia da Covid-19, mas com a evolução económica muito ligada sempre aos hidrocarbonetos e ao apoio da China.

A China tem “desempenhado um papel importante na reconstrução da infra-estrutura de Angola, desde o final da guerra civil e, em troca, recebeu desde então quase metade da produção anual de petróleo”, segundo a consultora.

A dívida de Angola à China representa quase 30 por cento do PIB, equivalente a mais de 20 mil milhões de dólares, segundo a EMFI, mas os esforços das autoridades vão no sentido de reduzir o pagamento em petróleo, sujeito às variações do mercado e com condições desvantajosas para o país, o segundo maior produtor de petróleo na África Subsaariana.

O melhor momento dos últimos anos revela-se em vários indicadores, como a dívida pública que desceu para menos de 100 por cento do PIB, de acordo com o Ministério das Finanças, graças à valorização do Kwanza, que ganhou 23% face ao dólar, só no primeiro trimestre do ano, e, também, graças ao apoio do FMI, que emprestou 4,7 mil milhões de dólares, sendo esse o maior Programa de Ajustamento Financeiro de todo o continente africano.

Em entrevista à Lusa, no final de Janeiro, o director do Departamento Africano do FMI, Abebe Aemro Selassie, sintetizava assim a confiança nas autoridades angolanas: “Dada toda a adversidade dos choques que enfrentaram, as autoridades angolanas fizeram um esforço notável para lidar com os desequilíbrios e é muito encorajador ver um crescimento este ano. Fizeram um trabalho tremendo para manter a economia e chegarem até aqui”.