Milhares de angolanos, entre os quais o Presidente da República, participaram ontem, no Pavilhão da Cidadela, em Luanda, de um culto ecuménico de acção de graças em saudação ao Dia da Paz e Reconciliação Nacional, que hoje se assinala.

Em nome do Executivo angolano o Ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Filipe Zau, destacou o valor da “paz tão duramente alcançada, em 2002”, reafirmando ser a “melhor conquista da família angolana”. “A paz é o sinal mais evidente do progresso”, disse o ministro, para acrescentar que “só através da estabilidade política, poderá haver investimento, nacional e estrangeiro, que contribua para a empregabilidade e mais rápido desenvolvimento nacional”.

Filipe Zau precisou que, após um longo período de conflito armado fratricida, os angolanos conseguiram, há 20 anos, a paz com suor, lágrimas e sacrifícios é incomensurável. O ministro falou, também dos benefícios económicos e socais, resultado do “vasto processo de reconciliação e reconstrução nacional”.

“Hoje temos um número cada vez maior de habitações, estradas reconstruídas, escolas para crianças e adultos, centros de saúde e hospitais, garantindo uma rede de instituições sociais de grande envergadura, devidamente equipadas, ao serviço das nossas famílias e comunidades”, disse, para sublinhar, igualmente, o número cada vez maior de beneficiários de transferências sociais, de protecção e assistência, em momento de crise e de calamidade.

O ministro destacou, ainda, o papel das igrejas, como parceira do Estado, em acções sociais, como saúde, protecção e assistência de populações vulneráveis, educação para o exercício da cidadania e da promoção dos valores morais, cívicos, patrióticos e deontológicos, para o fortalecimento da unidade, do respeito nas famílias.

Outra frente do trabalho das igrejas, destacada pelo ministro, tem a ver com a formação académica e profissional do capital humano, para que, no futuro, o país alcançar o desenvolvimento sustentável. “As igrejas são a reserva moral do nosso povo e o garante da concórdia, da reconciliação e da unidade nacionais”, disse.    

O ministro reafirmou, igualmente, a parceria com as instituições religiosas, com base no respeito mútuo, para, num esforço comum, reconstruir e fazer de Angola uma grande nação no mundo.

“Que a paz, progresso e solidariedade, sejam o alicerce para o futuro e conduzam as nossas opções e iniciativas, para acções conducentes à consolidação da democracia participativa e representativa, como pré-requisito indispensáveis à melhoria da justiça social e do Estado de Direito em Angola”, disse, augurando que, ao permitir a assumpção dos aspectos positivos e negativos da memória histórica dos angolanos, a paz seja “o esplendor” de transformação dos ódios do passado.

Responsabilidade de todos

A Reverenda Deolinda Dorcas Teca disse, na sua mensagem, que a promoção da paz e desenvolvimento não devem ser encarados apenas como responsabilidade dos políticos, mas de toda a sociedade e a igreja tem responsabilidades acrescidas no processo.

A líder religiosa referiu que deve continuar a trabalhar na prevenção de todo o tipo de conflito, para que possamos alcançar o desenvolvimento. Para preservação da paz e reconciliação nacional, a reverenda apelou ao diálogo permanente entre governados e governantes.

Deolinda Dorcas Teca pediu aos angolanos a trabalharem juntos de modo a prevenir todo o tipo de conflito e preservar a paz tão duramente conquistada. Por se tratar de um ano eleitoral, exortou à Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e aos concorrentes a dialogarem continuamente de modo a evitar insatisfações que sucedem depois das eleições.

“A igreja deve se tornar embaixador da paz, aceitando e perdoando os outros independentemente das suas convicções políticas e cores partidárias, pois, os angolanos estão condenados a conviver sempre juntos sem discurso musculados e actos de violência. A reverenda deixou, também, um recado aos jovens, por serem “a voz da fé e da esperança de toda e qualquer nação”. Disse que, apesar de existirem vários sonhos ainda não realizados, é preciso não esquecer que são os actores do crescimento e desenvolvimento do país.

“Sois a voz da fé e da esperança deste povo e devem preservar as conquistas alcançadas pelos próprios, pelos mais velhos e por outros jovens”, disse, ao mesmo tempo em que pediu à igreja para contribuir com iniciativas concretas, com destaque para seminários, estudos bíblicos, palestras e conferências destinadas à promoção da paz e do amor ao próximo.

Cultivar a paz

Durante a homília, o arcebispo de Luanda, D. Filomeno Vieira Lopes, apelou aos angolanos a cultivarem a paz nas igrejas, empresas, bairros e sobretudo no seio das famílias e abdicarem da intolerância política. O prelado precisou que “as guerras nascem nos corações dos homens, pois são estes que matam e não a espada. O mau sempre teve nome e rosto de homens e mulheres que escolhem este caminho como opção”.

O bispo D. Afonso Nunes considerou o culto um momento ímpar e convidou os angolanos a olharem para a nova batalha da reconciliação nacional como um exercício contínuo, em curso em toda extensão do território nacional.

Para o presidente da CASA-CE, Manuel Fernando, o culto ecuménico serviu para comemorar os 20 anos de paz efectiva, mas também contribuir para projectar um futuro de paz, segurança e estabilidade. “Apesar das diferenças ideológicas, somos todos angolanos estamos condenados a viver e conviver na paz e harmonia social”, disse.