O Chefe de Estado, João Lourenço, manifestou, segunda-feira (14), na cidade da Praia, Cabo Verde, o interesse em criar uma parceria que deverá unir a companhia nacional de bandeira,TAAG, e os Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), a fim de voar para as várias capitais das nações da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), da Europa e dos Estados Unidos da América, zonas em que o país insular tem autorização para explorar.

O estadista angolano manifestou o interesse du-rante o discurso no Palácio do Governo, onde testemunhou, com o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, a assinatura dos instrumentos jurídicos de cooperação. Referiu que a ideia é unir a capacidade que Angola tem, em termos de meios aéreos, com a de Cabo Verde, que dispõe de experiência em relação à gestão aeroportuária e de aeronaves e por ter conseguido, ao longo dos anos, licença para voar em espaços que Angola não conseguiu.

“Vamos juntar as capacidades dos dois países neste domínio da aviação civil e creio que sairemos todos a ganhar”, destacou João Lourenço, para quem a base desta parceria estará em Cabo Verde. Ontem, os dois Estados rubricaram quatro instrumentos jurídicos, nomeadamente, o “Acordo de Promoção e Protecção Recíproca de Investimento”, “Acordo Bilateral sobre os Serviços Aéreos”, “Memorando de Entendimento sobre os Transportes Aéreos entre o Ministério dos Transportes de Angola e o Ministério do Turismo e Transportes de Cabo Verde” e o ” Memorando de Cooperação Técnica entre a Autoridade Nacional da Aviação Civil de Angola (ANAC) e a Agência da Aviação Civil de Cabo Verde”, aprovados na VIII Comissão Mista entre Angola e Cabo Verde, que decorreu na capital cabo-verdiana, sob a presidência dos chefes das diplomacias dos dois países, nomeadamente, Rui Alberto de Figueiredo Soares e Téte António.

Dos instrumentos jurídicos, destaca-se o da Aviação Civil, que permitiu ao Estado angolano alugar a Cabo Verde um Boeing 737-700, da nova geração, de modo a assegurar a continuidade dos serviços da companhia aérea cabo-verdiana. A aeronave chegou às primeiras horas de ontem à cidade da Praia.

“Nós não quisemos perder muito tempo. Por isso, fizemos coincidir a nossa chegada, aqui na cidade da Praia, com a chegada, também, da primeira aeronave Boeing 737-700 da TAAG que, a partir de agora, fica nos termos acordados e ao serviço dos Transportes Aéreos de Cabo Verde”, salientou o Chefe de Estado.

Frisou que, embora esteja em vigor, neste momento, o Acordo de Mobilidade na CPLP, aprovado, na vigência da presidência de Cabo Verde, não se pode falar de mobilidade sem transporte, sobretudo o aéreo, “daí a urgência de se chegar ao entendimento sobre a necessidade de se aproveitar, da melhor forma possível, as capacidades que Angola tem com as de Cabo Verde”, lamentando o facto de o progresso que se regista no domínio da aviação civil não estar a acontecer, também, em outras áreas.

“Neste domínio, Cabo Verde está à vontade e, por isso, gostaríamos de tê-lo como nosso professor, para implantarmos o Poder Autárquico em Angola, que está muito próximo de se concretizar”, admitiu, sublinhando que a proximidade entre a visita de Estado de José Maria Neves a Angola, e a sua, agora a Cabo Verde, reflecte, bem, o interesse mútuo no estreitamento da amizade, mas, sobretudo, de cooperação económica que, por razões de diversa ordem, não marcou, ao longo de décadas, passos concretos.

Disse ser tempo de corrigir este quadro, sublinhando, como sinal dessa vontade, a realização, na cidade da Praia, da VIII Reunião da Comissão Mista Angola – Cabo Verde, que não se reunia há 14 anos. “Acreditamos que, daqui para frente, o futuro será risonho para os nossos dois países”, assegurou.

No encontro com o homólogo de Cabo Verde, José Maria Neves, antes de se deslocar ao Palácio do Governo, o Chefe de Estado afirmou que é o momento de recuperar o tempo perdido, com factos e gestos concretos, para o melhoramento da cooperação económica entre ambos os países.

 Poder autárquico

O Chefe de Estado reconheceu a capacidade de Cabo Verde, em matéria de Poder Autárquico, tendo, por isso, aberto a possibilidade de Angola beber dessa experiência, quando começar a instituir o mesmo poder no país. “Somos suficientemente modestos para reconhecer que, neste domínio, é aqui e em outros pontos onde devemos buscar o conhecimento e a experiência para implantarmos o Poder Autárquico em Angola”, realçou, acrescentando não faltar muito para isso. “O facto de não haver autarquias locais, em Angola, é que é uma anormalidade”, frisou.

 Fundação Amílcar Cabral

Depois do encontro com o Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, e antes de partir para o Palácio do Governo, onde testemunhou a assinatura dos instrumentos jurídicos de cooperação, João Lourenço visitou a Câmara Municipal da Praia, onde recebeu, a título simbólico, a chave da cidade, em reconhecimento pelo contributo que está a dar no fortalecimento das relações.

 Depois rumou para a Fundação Amílcar Cabral, tendo, no final, assinado o livro de honra da instituição: “Percorrer este espaço de memórias é homenagear um dos mais brilhantes filhos destas Ilhas, o lutador intrépido que foi Amílcar Cabral”.

O Chefe de Estado seguiu para o Memorial Amílcar Cabral, onde depositou uma coroa de flores, antes de fazer visita guiada ao Laboratório de Medicamentos de Cabo Verde, Inpharma. Aqui, assinou o livro de honra, felicitando os pioneiros do projecto, que combinam espírito de inovação e audácia.

“Estão aqui resumidas, sob a forma de resultados altamente encorajadores, duas décadas de trabalho árduo, persistente e abnegado, que confirma o acerto das nossas acções quando se aposta no conhecimento e no saber”, destacou

“Uma visita histórica”

O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, considerou histórica e pragmática a visita do Chefe de Estado angolano ao país insular, na medida em que coloca pedras no reforço das relações de amizade e cooperação entre os dois países.

“Esta visita é, a todos os títulos, histórica. Em menos de dois meses, fiz uma visita de Estado a Angola e, neste momento, o Presidente João Lourenço retribui esta visita aqui a Cabo Verde”, referiu.

José Maria Naves disse haver uma forte vontade, no sentido de se reforçar o pilar económico empresarial entre os dois países, no sentido dos empresários das duas partes poderem desenvolver os negócios e estabelecer parcerias, aproveitando as oportunidades existentes.

“Devemos realçar a determinação, a vontade e o pragmatismo do Presidente João Lourenço, no sentido de pôr as coisas a funcionar, redinamizando as relações e acelerar o ritmo de aproximação entre os nossos dois países”, reconheceu.

Enquanto isso, o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, disse ser com grande satisfação que o país recebe o Chefe de Estado angolano e acrescentou que a realização da VIII reunião da Comissão Mista, entre Angola e Cabo Verde demonstra o novo rumo que os dois Estados querem dar às relações bilaterais. “Gostaria de destacar o seu sentido pragmático de fazer as coisas acontecer”, frisou, referindo-se ao estadista angolano.