O Presidente da República, João Lourenço, considerou, ontem, em Luanda, a retoma da ligação aérea entre Angola e Cabo Verde um assunto pertinente, cuja concretização será para breve, mas sublinhou que a grande ambição, com isso, passa por atingir países da região da África Ocidental, Europa e os Estados Unidos da América.

O Chefe de Estado manifestou o desejo durante o momento em que os dois presidentes prestavam declarações à imprensa, minutos depois das conversações oficiais na sala do Conselho de Ministros: “Eu penso que satisfazer apenas a necessidade da ligação aérea entre os dois países é uma ambição bastante pequena”.

João Lourenço destacou o facto de Cabo Verde ser detentor de licenças que lhe permitem voar para países que Angola não voa, nomeadamente, para muitos destinos europeus e para os Estados Unidos da América.
“Vamos ver se, conjugando os esforços, podemos colocar os dois países a ganhar, desde que os activos de Angola e de Cabo Verde, neste domínio da aviação civil, sejam colocados à disposição um do outro”, realçou.

Ainda no capítulo da aviação civil, o Presidente disse que os dois países estão a trabalhar, com alguma celeridade, no sentido de se criar uma empresa que, a partir de Cabo Verde, possa explorar o mercado da África Ocidental. O estadista angolano esclareceu que a ideia, com isso, é trazer os passageiros dos países da África Ocidental, onde Cabo Verde está inserido, em benefício de Angola, dos próprios cabo-verdianos e dos países que acabarão por ter as ligações com o resto do mundo mais facilitadas.

Referiu que Angola e Cabo Verde estão a trabalhar, a nível dos Governos, para se tirar o maior proveito das potencialidades existentes entre ambos, em vários domínios, como o da economia. “Estamos a trabalhar, mais recentemente, num acordo aéreo e marítimo, uma vez que a nossa companhia de bandeira é detentora de meios aéreos ociosos, que poderiam ser melhor aproveitados”, apontou.

Além disso, João Lourenço disse haver muitos outros domínios em que os dois Governos estão a trabalhar, a fim de se explorar os benefícios dos dois países. Acrescentou que o país quer atingir o nível de Cabo Verde na hotelaria e turismo, tendo salientado o facto de o país dispor de potencialidades adormecidas que precisam de ser exploradas. “Mas, para isso acontecer, o factor homem é muito importante. Portanto, gostaríamos de beber da vossa experiência”. O Presidente da República revelou que “a grande ambição”passa por elevar a relação com Cabo Verde a um nível estratégico, tendo o “céu como limite”.

Adesão à CEDEAO

A uma pergunta se pretende aderir à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), como observador, o Chefe de Estado disse não constituir, ainda, intenção, mas ressaltou que, caso um dia aconteça, contará com o apoio de Cabo Verde, como um dos “padrinhos”.

Esclareceu que, não obstante a diplomacia angolana prestar uma atenção particular à região da África Ocidental, que abarca os países membros da CEDEAO, ela trabalha com todos os Estados do continente e do mundo.

Visita a Cabo Verde

Durante as conversações oficiais, na Sala do Conselho de Ministros, o Presidente de Cabo Verde, José Maria Pereira Neves, convidou o homólogo angolano a visitar Cabo Verde, o que foi aceite por João Lourenço, no momento de interacção com a imprensa. “O Presidente José Maria Pereira Neves acaba de estender-me o convite para realizar a visita de Estado a Cabo Verde e eu devo declarar, aqui publicamente, que aceito de bom grado, realizar esta visita nas datas que as nossas diplomacias estabelecerem”, aclarou.

Continuidade dos trabalhos na CPLP

O Chefe de Estado disse que Angola vai dar continuidade ao “bom trabalho” realizado por Cabo Verde, quando esteve à frente da CPLP, de modo a tornar a família luso-falante mais unida, coesa e que, além dos aspectos culturais e históricos, possa, também, explorar a cooperação económica entre os países da comunidade, que considerou “muito importante”. Angola recebeu o testemunho da presidência da CPLP de Cabo Verde.

João Lourenço ressaltou que a visita de José Maria Neves ao país, num contexto de luta global contra a pandemia da Covid-19, ganha um significado especial, não só por se tratar do Chefe de Estado de “um país irmão”, com o qual tem relações históricas que datam desde o período da luta de libertação contra a dominação colonial, como pelo facto de ter escolhido Angola como o primeiro destino nas vestes de Presidente da República de Cabo Verde. “Agradecemos este gesto, que é, para nós, uma demonstração clara da grande relevância e peso que têm as relações entre os nossos dois países”, realçou.

Lembrou que o primeiro passo para a formalização das relações bilaterais entre Angola e Cabo Verde foi dado em 1976, com a assinatura do Acordo Geral de Amizade e de Cooperação entre os dois países. Referiu que este marco foi “muito” importante, porque, a partir daí, foram assinados um grande número de instrumentos jurídicos, nos mais variados sectores da vida nacional de ambas as nações e assumidos outros importantes compromissos, que têm impulsionado a promoção e a dinamização da cooperação económica e do intercâmbio empresarial entre os dois Estados, tendo como base a igualdade e a reciprocidade de vantagens.

“É dentro deste espírito que pretendemos que a cooperação entre Angola e Cabo Verde continue a desenvolver-se de modo a que consigamos alargá-la a sectores não explorados, aproveitando o factor humano como o principal eixo sobre o qual deve assentar o desenvolvimento das nossas nações”, salientou.

Enfatizou o facto de os dois países possuírem capacidades, em diversos domínios da vida nacional, que devem ser potenciadas e, nas quais, procurar centrar as acções, de modo a se colher benefícios significativos da cooperação que vierem a desenvolver em tais sectores. Para tal, disse ser necessário superar os obstáculos actuais que a pandemia da Covid-19 impôs, que condicionou, em larga escala, nos últimos dois anos, o crescimento económico de Angola e de Cabo Verde, provocando o desemprego e outros problemas sociais que devem procurar solucionar.

Disse que Angola e Cabo Verde têm uma história e trajectória política semelhantes, o que anima a caminhar juntos para ampliar e aprofundar os laços de amizade e de cooperação existentes, visando alcançar o progresso e o desenvolvimento sócio-económico dos países. “Estou convencido que juntos poderemos trabalhar para a criação de todos os mecanismos e incentivos que encorajem este movimento de empresários que queremos que seja crescente e permanente”, sublinhou.