O presidente do MPLA destacou, sábado (11), em Luanda, os benefícios do uso de parte dos recursos do Fundo Soberano de Angola e criticou os adversários políticos defensores da ideia segundo a qual o Executivo não devia usar o dinheiro daquela instituição.

João Lourenço fez essas declarações durante o discurso no acto de massas do seu partido, realizado no Estádio Nacional 11 de Novembro, alusivo ao 65º aniversário da organização política, assinalado sexta-feira última.

O presidente do MPLA disse que os adversários pretendiam, com as críticas, desencorajar o Executivo a resolver os problemas da população. “Os nossos adversários não queriam que nós resolvêssemos o problema do povo”, revelou. Afirmou que, enquanto o Executivo se preocupava em resolver os problemas do povo, os adversários torciam, sempre, para que tal não acontecesse. “Quando a gente quer fazer bem, eles desencorajam-nos”, frisou.

Num discurso improvisado de 1h16, virado para dentro e fora do partido, João Lourenço referiu que se fossem “fracos de espírito” deixariam de construir as várias unidades hospitalares, escolas e outros equipamentos sociais hoje espalhados pelo país.

Esclareceu que parte dos recursos do Fundo Soberano serviu para implementar o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), que tem como objectivo materializar as acções de Investimento Públicos (PIP), de Despesas de Apoio ao Desenvolvimento (DAD) e de Actividades Básicas, com prioridade para as acções de carácter social, de modo a inibir o êxodo rural e promover o crescimento económico, social e regional mais inclusivo no país.

Este Plano pretende aumentar a autonomia dos 164 municípios de Angola no âmbito da política de desconcentração e descentralização das competências administrativas e, deste modo, aumentar a qualidade de vida em todo o território nacional. “Os nossos detractores, na altura, tinham medo do sucesso do PIIM”, salientou.

João Lourenço lembrou que, quando se tomou a decisão de utilizar parte dos recursos do Fundo Soberano, ouviu-se que se estava a comprometer o futuros das crianças, tendo em conta a finalidade dos valores, mas referiu que este receio não corresponde à verdade, na medida em que não se acabou com o Fundo Soberano. “O Fundo Soberano de Angola continua a existir e a missão que tem, de garantir o futuro das nossas crianças, mantém-se de pé”, reafirmou.

Deu a conhecer que se está a utilizar, “apenas”, parte dos recursos que estavam adormecidos. “Nenhum pai deixa os filhos morrer de fome quando tem um peixe na arca, com o argumento de que está a guardar para o neto, que, às vezes, nem sequer nasceu. Nenhum pai faz isso!”, realçou João Lourenço, tendo, mais adiante, afirmado que os recursos foram usados com toda a transparência.

Acrescentou que o país tinha um Fundo Soberano com 5 mil milhões de dólares, tendo dito que os fundos de pensão não precisam de ter muito dinheiro, “à partida”, porque a responsabilidade deles é multiplicar esses recursos para as gerações vindouras.

João Lourenço disse que, ao chegar ao poder, fez um diagnóstico sobre o estado em que se encontrava o sector da Saúde e da Educação e a conclusão a que chegou é que se precisava de fazer qualquer coisa rápida, tendo em conta a alta taxa de natalidade do país.  

Criação de riqueza

João Lourenço ressaltou que o  momento, agora, é de pensar no desenvolvimento económico e social do país. Disse ser premente a criação de riqueza e garantia de bem-estar da grande maioria dos cidadãos.

Para a materialização deste desiderato, o presidente do MPLA, que discursava para milhares de militantes no Estádio 11 de Novembro, disse ser necessário organizar primeiro, convenientemente, a economia, a começar pela alteração da sua estrutura e raiz.

Frisou que o país tem uma economia, desde que se tornou independente, quase 100 por cento “estatizada”, em que o Estado é que faz tudo. “Mas a nossa dura experiência demonstrou que uma economia estatizada não é boa”, admitiu.
O líder da maior força política de Angola salientou que já estão definidas medidas para a alteração deste quadro. “O grande desafio do momento é fazermos essa inversão. É o Estado livrar-se da responsabilidade de produzir todos os bens e serviços”, focou.

João Lourenço referiu que, hoje, já se consegue sentir que o sector privado e cooperativo começa a assumir a sua responsabilidade, pondo a funcionar os activos do Estado, que não obstante serem gigantes, não cumpriam com o seu papel.  

Fomentar emprego

Reconhecendo o problema do desemprego no país, João Lourenço, que acabou de ser reeleito ao cargo de presidente do MPLA com 98, 04 por cento, para mais um mandato de cinco anos,  disse que o Estado vai fomentar a criação de emprego, estimulando agentes do sector privado para essa empreitada.

Energia    

João Lourenço disse que o Executivo está a trabalhar, arduamente, para levar a energia ao Leste, Sul e Centro do país. Sobre este particular, anunciou que já há aprovação do Executivo para a linha Gove-Matala, que vai levar energia às províncias da Huíla, Namibe e Cunene.

“É uma questão de tempo, para a energia chegar quer ao Leste, quer ao Sul do país”, frisou. João Lourenço destacou, ainda, o projecto em construção na província do Cunene, para acudir os efeitos da seca na vida das populações locais. “Não quero politizar a questão, mas se trata de uma estrutura de grande alcance social. Estou a imaginar as lágrimas daquele povo, quando assistirem à inauguração daquele projecto. Vão correr lágrimas”, disse.

“A paz tem um começo, mas não pode ter um fim”
João Lourenço chamou a atenção da juventude angolana, no sentido de evitar os erros cometidos pelas gerações passadas, que ajudaram o país a mergulhar no conflito armado, que durou cerca de três décadas.

“O que fizemos de bem, repitam e multipliquem, mas o que fizemos de errado não façam, porque as consequências podem ser muito graves”, advertiu. Entretanto, sublinhou que o país nunca mais voltará a uma situação do género. “A paz tem um começo, mas não pode ter um fim”, ressaltou, tendo reconhecido o empenho de José Eduardo dos Santos no alcance da paz em Angola.